"O lado poético, instaurador, sobredetermina o prosaico, regulador, ao mesmo tempo em que é sobredeterminado por ele, e é dessa nebulosa que emerge um sentimento de deriva e uma constelação civilizatória, que só um marxismo aberto, ou um metamarxismo, será capaz de entender.
[...] Se o homem real, corpóreo, vive na formação primitiva uma unidade indissolúvel entre a subjetividade e as objetivações do trabalho e da produção, o processo histórico se incumbiu de contrapô-las inexoravelmente, não apenas exibindo a nudez do trabalhador, mas submetendo-o a constrições, padecimentos e alienações, como se o homem tivesse perdido o respeito por si próprio. Auto-alienado, acabou por entregar a natureza e a si próprio a outrem. Mesmo agora, em tempos de globalizações neoliberais, essa constante se mantém, ainda que a potência revolucionária pareça aplacada e inerme. A qualquer momento, porém, essa força indômita e espectral pode perfeitamente voltar a questionar a solidez do império planetário, batendo de frente no 'estado de guerra de conquista' em que o poder do Estado e da indústria se converteram."
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