Os antigos só admitiam três cores primárias: amarelo, vermelho e azul, e os pintores modernos não admitem nenhuma outra. De fato, essas três cores são as únicas insolúveis e irredutíveis. Todos sabem que a luz solar é composta por uma série de sete cores, que Sir Isaac Newton chamava de primitivas – violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho; mas é óbvio que a denominação “primitiva” não pode ser aplicada a três delas, que são compostas, pois o laranja é uma mistura de vermelho e amarelo; o verde, de amarelo e azul; e o violeta, de vermelho e azul. Quanto ao anil, não está entre as cores primitivas porque não passa de uma variedade do azul. Assim, de acordo com os antigos, é preciso reconhecer que existem apenas três cores verdadeiramente elementares na natureza, as quais, quando misturadas em dupla, produzem mais três compostas, ditas secundárias: laranja, verde e violeta. Esses rudimentos, aperfeiçoados pelos cientistas modernos, levaram à elaboração de certas leis que formam uma teoria esclarecedora das cores, teoria que Eugène Delacroix dominou em toda a sua amplitude após captá-la instintivamente. Se combinarmos duas cores primárias – amarelo e vermelho, por exemplo – para produzir uma secundária – laranja -, esta alcançará o máximo de brilho quando for colocada perto da terceira cor primária não utilizada na mistura. Do mesmo modo, se combinarmos vermelho e azul para produzir o violeta, essa cor secundária se intensificará na proximidade imediata do amarelo. Finalmente, se combinarmos amarelo e azul para produzir verde, este terá mais intensidade na vizinhança imediata do vermelho. Cada uma das três cores primárias é chamada corretamente de complementar com respeito à cor secundária correspondente. Assim, o azul é complementar do laranja; o amarelo, do violeta; e o vermelho, do verde. Ao contrário, cada cor combinada é complementar da cor primária não utilizada na mistura. A intensificação mútua recebe o nome de lei do contraste simultâneo.
Quando as cores complementares são produzidas com força igual, ou seja, com o mesmo grau de vivacidade e brilho, sua justaposição as intensifica a tal ponto que o olho humano mal consegue suportá-las.
E, devido a um fenômeno singular, as mesmas cores que se intensificam quando justapostas destroem uma à outra quando misturadas. Assim, misturarmos azul e laranja em quantidades iguais, o laranja ficará tão pouco laranja quanto o azul ficará azul; a mistura destrói as duas cores, e surge em seu lugar um cinza absolutamente sem graça.
Entretanto, se misturarmos as duas cores complementares em proporções desiguais, elas se destroem apenas parcialmente, gerando um tom esmaecido, que será uma variedade de cinza. Portanto, novos contrastes podem ser obtidos da justaposição de duas cores complementares, uma pura, a outra esmaecida. Como a luta é desigual, uma das duas cores vence, e a intensidade da cor predominante não impede a harmonia do par.
Ora, se misturarmos cores similares em estado puro, porém em graus diferentes de intensidade, obteremos outro efeito, no qual haverá contraste por causa da diferença de intensidade e, ao mesmo tempo, harmonia por causa da similaridade de tons. Finalmente, se duas cores similares forem colocadas lado a lado, uma em estado puro, a outra esmaecida – por exemplo, azul e azul-acinzentado -, daí resultará um novo tipo de contraste, diluído pela analogia. Existem, pois, vários meios, distintos mas igualmente infalíveis, de intensificar, preservar, enfraquecer ou neutralizar o efeito de uma cor, por sua reação a tons contíguos – por seu contato com aquilo que ela não é.
Para intensificar e harmonizar o efeito de suas cores, Delacroix se valia do mesmo tempo do contraste as complementares e da concordância das análogas; ou, em outras palavras, da repetição de uma cor vívida pelo mesmo tom esmaecido.
Van Gogh, 13-17 abril de 1885.
Feliz dia dos Namorados.
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2 comments:
eu li tudo isso e só pensava no teu uniforme. pode?
adorei.
acho que vou estar retomando eu blog.
tenho saudade.
e a vida segue.
beijo, beijo!
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