Ser jovem na China não é lá tarefa fácil. Estava certo Bob Dylan quando disse que queria que as pessoas encarregadas da vida política e social tivessem mais cabelo na cabeça. Aqui, têm por mero acidente genético. São todos velhos, usam óculos e acreditam que o mundo pode estar no século 21, ou 22, ou 25 – contanto que “depois da galinha venha a ovelha, depois da ovelha o touro e, depois, o comunismo”.
Mas, ainda sobre os jovens: metem-se em vielas escuras para serem jovens. Respeitam os mais velhos (enquanto não estejamos falando de transporte público), acham o MSN a maior das bênçãos tecnológicas – ainda mais se for o “cucu”; a versão nacionalista - e acomodam-se em pensar que o bem social está nas mãos dos carecas. Não pretendem mudar o mundo, não se interessam pela política nacional e, invariavelmente, num acesso de lucidez, luz ou sobriedade, reconhecem que o mundo não é aquilo que vêem no caminho entre o restaurante e seus dormitórios. Quer saber o que pensam sobre os conflitos? “É uma droga não ter Youtube!”. E a conversa pára por aí. Ouvidos moucos, bocas caladas. Segurança nacional é a palavra de ordem.
A influência estrangeira, sim, é inegável, e atende pelo nome de “indie”. Quisera eu fosse Bossa Nova o sobrenome. Não o é. Talvez seja distorção. Quanto mais gritos houver, melhor. Se um começar, os outros seguem. Se um cessar, perdeu a graça.
Confirmo minhas desconfianças ao dividir com eles o balcão de um bar qualquer onde haja música ao vivo. Agora entramos no assunto. Esse grupo de jovens que não liga lá muito para quão redondo é o mundo, assume a nova fase de jovens músicos – o grupo dos emergentes. Profundamente influenciados por Radiohead e as mais diversas derivações, arriscam-se em chamar-se “indie alternativo”. Denominação local. Cortam os cabelos à japonesa, vestem listras e gritam ao microfone. É tudo uma questão de som e imagem.
Na parede do banheiro, a prova: “Eu amo minha mãe, amo meu país e amo Carsick Cars”. Ah, eu também! Principalmente no refrão: “Hey, Johnny, He doesn’t want to/ He wants to be a rock’n’roll hero”. Simples assim. Os insurgentes. Aparecem quando a luz diminui e todos estão alcoolizados demais para saber a diferença entre a vida e o mundo exterior.
Acredita: a vida é boa, e Carsick Cars é muito bom. Mesmo. Refletem a parcela da juventude que não quer mais ouvir ao country folk, tradicional. Revoltosos do god save the queen. Gostam do som, e as palavras não interessam. É sobre a marca tradicional do cigarro plantado, colhido e embalado por gente pobre, sem dente, sob a vigia dos carecas – lá no fundo, percebe? O primeiro riff inicia e todos tocam cigarros – apagados, por sorte – na banda. Uma chuva de compreensão.
Ainda sob o efeito da influência ocidental, fecham uma roda punk para a banda francesa Vialka. Um som White Stripes com o yodelling austríaco. De francês, pouco. Foi estranho o suficiente para eu gostar.
Há, ainda, os iluminados. Aqueles que vêem por frestas e acham que cuspir no chão é normal, conquanto seja gente da mesma gente. Interessam-se por Michel Gondry e esperam, ansiosos, o último lançamento no mercado negro. São curiosos pelos olhos ocidentais – e o que mais? -, e chegam a pedir que um ocidental beije suas namoradas. Encontram-se esses raramente nos restaurantes.
Todos esses procuram a libertação num copo de cerveja local e luz escassa. Fazem os temas regularmente e “não entendem” (ou fingem, e então é somente uma suspeita)o que quer dizer todas as outras coisas. Menos importantes, lógico.
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