Funciona mais ou menos assim, o mundo das desculpas. Eu não tinha internet, não tinha inspiração, meu teclado se reconfigurou sozinho e eu perdi acentos e ponto de interrogação (?!), eu tinha muitos temas para fazer, tinha que decorar 40 novos ideogramas por dia (para uma única aula – isso seria como aprender uma língua do leste-europeu a cada três dias), e me faltava muita inspiração. Isso tudo somado aos meus problemas de personalidade: a) nada que eu possa dizer pode ser interessante para alguém; b) o fato de o blogspot.com ser proibido aqui me incomodava bastante.
Mas eis que meu novo amigo francês – um rapazito de 19 anos com uma das melhores cabeças que eu encontrei por aqui – apresentou-me um site que possibilita burlar as questões políticas e, assim, eu acessei o blog. Dos meus amigos. Acordei cedo hoje e li a Luli. Preciso dizer que essa menina é meu orgulho. Li a Fêcris e vi que o último post era um beijo para mim. Recebi alguns e-mails de amigos (da Luli, inclusive), perguntando onde eu andava e se ainda lembrava deles. Lembro tanto que senti uma necessidade de esquecer por um instante meu próprio umbigo (e, neste momento, o umbigo dos meus professores da universidade dos 12 zilhões de caracteres/hora) para dizer que estou bem.
Tem sido bastante diferente morar por mais do que um mês em um lugar. Foi preciso assumir a vida aqui, alugar apartamento, comprar panelas. Dei sorte de encontrar uma chinesa, estudante de mídia, para dividir as angústias e a assinatura do contrato. Ela agora é namorada do rapazito e, então, passamos boa parte do tempo sentados vendo filmes, escutando música e discutindo por que o futuro da música pertence ao Tom Yorke. Bela companhia.
É sempre um olhando sobre o ombro do outro e Mao olhando por todos. Muitas vezes isso me enche de tédio. Os olhos curiosos no metrô me trazem uma idéia de este lugar ser, ainda, algo bastante primitivo. Nada de bons modos, nada de modos, por assim dizer. Assim, o negócio é levar a vida mais ou menos como um chinês faz: empurrar todo mundo para dentro dos ônibus e fazer das refeições a maior ocasião do dia. Eventualmente me levo a algum bar obscuro onde possa ouvir alguma música e fingir que eu não sinto fome. É como o Caio disse: “Aos vinte anos se sabe pouco além da própria fome”.
Além de estudar a tarde toda, então, é isso que tenho feito. Vi o Infected Mushroom tocar e a banda chinesa Ziyo que, por sinal, merece uma atenção no myspace.com/ziyo. Uma das melhores performances que já vi e das melhores coisas que escutei nos últimos tempos. Sábado que vem quero ver outra banda, e assim vai.
E, para conformar a Luli pela perda (com d!) da carteira e da proteção oriental que eu tinha dado para ela, vou procurar uma nova hoje – e bem mais bonita, que é para combinar com a dona. Além disso, queria dizer à viajante solitária: “And only because He had no place He could stay in without getting tired of it and because there was nowhere to go but everywhere, keep rolling under the stars, generally the Western stars (…) Beyond the glittering street was darkness, and beyond the darkness the West. I had to go ”. Jack Kerouac, On the Road.
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