Tuesday, March 25, 2008

Querida,
Passei a semana toda pensando que segunda-feira ia chegar, e eu não estaria aí. Isso abalou meu humor, minha concentração, mas fiquei esperando. Esperando por segunda-feira. Sábado, quando te tirei da cama, percebi que era ok, que eu podia chorar. Que eu podia já sentir saudade. Ainda me é estranho; parecia que eu precisava da semana de adaptação.
Primeiro eram dias. Depois, semanas. Chegou o ano, e eu senti sob a pele um arrepio. Não fiz o que te falei que faria. Não passei o dia no templo, olhando para o céu e procurando compreensão. Também não fui à aula. Fiquei perambulando pela cidade, enchendo-me de ar poluído e chá. Pensei que, se não podia estar aí, não importava o que eu fizesse aqui. Só importava o que estava sentindo. E tudo que vivemos nesse tempo.
Sentei em frente ao computador mil vezes. Queria te mandar um e-mail, escrever um texto bonito. Tentei também algo lúcido, a crise do país, aquelas palavras que começam com T sobre as quais eu não deveria falar, mas todo mundo queria saber. Porém, só me vinha à cabeça aquela palavra com S, que nós brasileiros nos orgulhamos em dizer, aos quatro ventos, que é nossa e ninguém tira. Não tentei explicar aqui o que significa e o que exatamente esse sentimento me causava. Não há explicação.
Queria estar aí. Segurar a tua mão enquanto nos escorrem as lágrimas. Depois, enxugar o nariz com um riso amarelado pelo tempo. Queria poder te proteger daqueles que passam a mão em teus cabelos e dizem: “É a vida, e tudo vai ficar bem”. Tudo não pode ficar bem, e a vida é o que é. É infame. É poluída. É perambular por aí.
Depois do aniversário, quando vi aquele homem bonito, em seu terno azul, agachado arrumando flores na cabeceira do túmulo do filho, vi que áqüea palavra com S era muito mais do que mera questão lingüística. Era uma imagem que ficaria para sempre gravada em minha cabeça. Assim como tantas outras.
Acabada segunda-feira, estamos bem de novo?! Passam horas, dias, depois semanas. E nada mudou. Ou mudou, e a gente nem soube dizer. Espero que tenha mudado. Não só na ausência, mas na “presença da ausência”, como disse o Ric. Não que sejamos levados a encarar os absurdos da vida como aprendizados – essa conversa me enche e, ao mesmo tempo, conforta de forma muito irritante -, mas que sejamos mais alguma coisa.
Agora, longe é o lugar mais solitário do mundo. E se releva isso também. É como tu disseste: não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo. Queria que ter te conhecido na noite do show do Fito Paez mesmo.
No mais, espero...
Muita S. Muita mesmo.
Love you!
Morena

1 comment:

Anonymous said...

Um ano parece tanto, mas tão pouco tempo pra quem lembra de tudo como se fosse ontem. Que coisa. A palavra com S continua sempre aqui por dentro.

Beijos, Morena.