Thursday, April 17, 2008

De cinismo

Se esse não for um dos pecados, deveria entrar na lista. Na top list. E, na preocupação de incorrer em falsas pretensões, péssimos julgamentos e limitação de linguagem, aposto em Huxley, que sabia das coisas como poucos.

"• Ser cínico é uma qualidade; isto é, quando se sabe onde parar. Quase todas as coisas que nos ensinaram a respeitar e reverenciar não merecem mais do que cinismo. Considere o seu próprio caso. Ensinaram-lhe a cultuar idéias como patriotismo, a justiça social, a ciência, o amor romântico. Disseram-lhe que virtudes tais como a lealdade, a temperança, a coragem, a prudência são boas em si mesmas, em quaisquer circunstâncias. Garantiram-lhe que o sacrifício é sempre esplêndido e os belos sentimentos invariavelmente bons. Tudo isso é bobagem, tudo uma chusma de mentiras que os homens inventaram a fim de ter pretexto para continuar a negar Deus e a chafurdar no próprio egostimo. Quem não foi firme e inabalavelmente cínico em relação ao palanfrório solene dos bispos, banqueiros, professores, políticos e todos os demais, está perdido. Completamente. Condenado à prisão perpétua no cárcere do “ego”, condenado a ser uma personalidade no mundo das personalidades, mundo esse que é o nosso mundo – da cobiça, do medo e do ódio, da guerra e do capitalismo, da ditadura e da escravidão. Sim, é preciso ser cínico, Pete. E cínico especialmente para com as ações e os sentimentos que nos ensinaram a supor bons. Quase todos não o são. Não passam de males que recomendam quem os pratica, mas, infelizmente, esses males são tão maus quanto os demais. Em última análise, os escribas e os fariseus não são melhores que os publicanos e pecadores. De fato, são, às vezes, muito piores. Por várias razões. Sendo conceituados pelos outros, julgam bem de si mesmos; e nada robustece tanto o egotismo como fazer alguém bom conceito de si. Depois, publicanos e pecadores são apenas animais humanos, sem energia e autodomínio bastante para fazerem muito mal. Ao passo que os escribas e os fariseus têm todas as virtudes, exceto duas das únicas que contam, e bastante inteligência para compreender tudo, menos a natureza real do mundo. Publicanos e pecadores, quando muito, fornicam e excedem-se no comer e no beber. Os homens que fazem guerras, os que escravizam os semelhantes, os que matam, torturam e mentem em nome de suas causas sagradas – em suma, os homens realmente maus – nunca são os publicanos ou os pecadores. Não; os virtuosos, os respeitáveis, os donos dos mais belos sentimentos e dos melhores cérebros, dos mais nobres ideais. (diferenças entre oriente e ocidente são ainda como um pensamento polarizado; os pares. Não o mero preto e branco, ou o zero e o um. Da complexidade e da incerteza. E isso não significa que um seja melhor ou pior; tampouco sugere que um seja à esquerda, o outro à direita. Sugerem apenas que são ambientes específicos, divididos e separados por alguns milhares de outros pares que, somados, resultam na matemática mais atroz que é a vida sobre a terra – a realidade virtual. )"

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