Sunday, April 13, 2008

De mudanças na China

Tenho um pouco de medo de, como disse meu primo, perder o olhar estrangeiro sobre Beijing. Começar a achar tudo normal, tudo “coisa da China”. Algumas coisas, no entanto, não passam tão facilmente despercebidas.
O meu prédio fica em frente à Universidade, no lado norte de uma das mais importantes ruas do bairro. No lado que será destruído para o alargamento da avenida. Meu prédio está a salvo, por ficar mais para dentro, mas os restaurantes (inclusive o meu preferido), as lojas e escritórios começaram a ser destruídos neste domingo – um dia lindo de sol, primaveril, que me levou a fazer um pic-nic no parque. Na volta do passeio, já não havia mais restaurante favorito.
Hoje mesmo vi a garçonete do restaurante na rua, abraçada ao namorado. Na última vez que fomos comer lá, na sexta, tivemos uma briga com ela, eu e meu colega dos Estados Unidos. Ela sempre foi tão antipática, e sempre respondeu com um sorriso amarelo aos nossos pedidos. Hoje fiquei chocada quando saí da escola e vi que não havia mais opções. Nem para ela.
O alargamento foi aferido à necessidade de melhoramento da via. Diariamente, mais de 1,2 mil novos motoristas surgem no país. Mais motoristas, mais carros. É preciso ter maiores ruas, é. O governo ainda implementou uma nova instância de controle de tráfego, que, agora, vai subsidiar educação aos motoristas, para que eles conheçam as regulamentações que regem o trânsito, bem como para que melhorem a performance nas ruas.
Enquanto preocupamo-nos com não morrer atropelados, eles destruíram as calçadas. O dono do Lele Bar, o único barzinho próximo da universidade, disse que eles vão poder reabrir os negócios em 20 de maio, em uma região próxima. A custo baixo: o aluguel de 2 mil Yuan (500 reais) passará para 8 mil Yuan (2 mil reais). Não ganharam novos espaços. Quem não puder arcar com o prejuízo que compre um carro.
O nível de pobreza na China é medido mediante uma renda per capita anual de 1,3 mil Yuan ou inferior (4oo reais anuais ou menos).
A boa notícia para os trabalhadores é que eles poderão manter as portas abertas aos fumantes. A tentativa do governo de proibir o tabaco em todas as áreas públicas foi protestada por donos de estabelecimentos comerciais, e restringir-se-á apenas aos escritórios oficiais, escolas e complexos esportivos. Ainda não falaram nada sobre hospitais. Mais de 70% da população chinesa é fumante ativa, alegaram os comerciantes.
Tentativa de conter outro tipo de fumo. Semana passada mais de 30 estrangeiros foram presos por negociar substâncias ilícitas. Não sei se foi o caso, mas um rapaz negro foi preso no meu prédio na quinta, enquanto eu estendia minhas roupas no varal. Nada de Tropa de Elite. Coisa supercivilizada. E discreta.
As estações de metrô estão mudando. Fui trocar de linha me perdi. Acabei saindo da área de trânsito. Como um incentivo para que as pessoas (ainda mais pessoas) peguem o transporte público e deixem os poluidores veículos em casa (ou estacionado nas agora mais largas avenidas...), o bilhete custa 2 Yuan (0,50 centavos) para qualquer distância percorrida, independentemente das trocas de linhas necessárias. Eu, que saí da área de troca de linha, deveria ter pago um novo bilhete, mas consegui convencer o segurança, em bom chinês, que havia me perdido. Saí do curral pela porta errada. Sim, são currais agora. É o único jeito de evitar que os chineses não se matem pisoteados na corrida por um assento.
Ontem o Hu mudou de idéia: decidiu que Taiwan e China são irmãs e complementares, resolveu colocar 250 bi Yuan em investimentos na ilha e anunciou que o Tibet é um caso de relações internaiconais. Nunca houve mal em mudar de idéia, né? É só se adaptar.

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