Enquanto a vida real não começa, encho-me de bicos. Como criança.
Uma semana em Hong Kong foi o suficiente para encher meu corpo de ar tranqüilo, mais lucidez e luxo ultrapassado. Hong Kong ainda é a cidade mais cara da China (apesar de ter sido um vôo internacional que me levou até lá).
Como na primeira vez, desço em uma Hong Kong úmida e chuvosa. Por sorte cheguei lá. Há dez minutos d distância entre céu e o aeroporto internacional de Hong Kong, o pilto nos informa, em bom mandarim, que teremos de ir para uma cidade próxima devido a um tufão. Pensei que não fôssemos sobreviver a intensa turbulência, mas aterrissamos, por fim, em Guanzhou – ou Cantão – para três longas horas de espera sem sair da aeronave. Tento perguntar se posso sair, esticar as pernas. O vôo tinha sido uma droga, e eu não podia parar de pensar em: por que os sacos de lixo estão todos na frente da porta de saída de emergência?; Por que ninguém está sentado enquanto o avião sacode tanto? Por que três senhores, duas mulheres e uma criança levantaram assim que o sinal de apertar os sintos foi ligado?
A aeromoça (aqui elas ainda são isso), em um péssimo inglês, diz para eu esperar por novas instruções. Peço-as em mandarim, e ela me explica com um sorriso o que iria acontecer.
Depois de três horas de avião e 20 minutos de vôo, chego a Hong Kong. O ar molhado de chuva é um alivio para meus pulmões, já cansados de Beijing.
Foi uma semana cheia de trabalho, encontros com brasileiros, overpriced beer e negociações em mandarim, para o deleite de todos os brasileiros presentes. Eu falava e meus interlocutores eram obrigados a concordar. Foi uma vitória pessoal.
Para aliviar o dia de feira, vamos a rua dos bares – a mesma em que estive há um ano atrás. A pequena Londres de pubs, amendoim e cerveja internacional. Nem é preciso dizer que não precisou dois copos para me fazer levantar da mesa e rodopiar pelo bar, quase vazio. Uma chinesa me acompanha e, logo, os demais brasileiros entram na dança. Em 20 minutos enchemos o bar. Foram horas e horas de hip hop esquizofrênico (o DJ não podia tocar rock – deve ter ouvido as histórias do demo).
Voltei para Pequim de ressaca e com pouca voz, sentindo falta da gentileza da antiga colônia e da civilização que espera, na fila, mas o resto da vida.
Quase não consigo chegar em casa. Destruíram, além do meu restaurante preferido, a lan house que me indicava a rua que moro. Não há mais nada daquele lado da rua. Só poeira, poeira e poeira.
Na mesma noite vou com alguns amigos a Hou Hai, uma área antiga que circunda um belo lago, cheia de bares e restaurantes. Vamos ao Obiwan, bar que oferece, de 15 em 15 dias, uma noite de indie rock, “para aqueles que pensam e gostam de boa música”, como diz o cartaz no banheiro. Não havia ninguém lá. O DJ estava doente. Resolvemos sentar, de qualquer forma, para um update da semana que perdi – inclusive as provas. Paciência. Queria mesmo era estar em Hong Kong.
A semana recomeça cheia de conflitos e boas-novas. Vou começar a dar aula de português para os chineses e, quem sabe, me readaptar ao idioma, que já ficou distante o suficiente para dar saudade.
Hoje é o primeiro dia.
Além disso, estou bastante orgulhosa de presenciar este momento na China. A internet foi "liberada". Até mesmo a BBC e o Wikipedia. Ainda assim, não consigo carregar páginas com 1989......
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