A parte boa de se morar em uma cidade como Pequim é a possibilidade de escapar dela – com facilidade. Em duas ou três horas, estamos em um mundo particular; mais chinês, menos poluído. A isso se afere o ditado aqui: “Se não sentires a diferença ao respirar quando fores para os vilarejos, tu já estás em Pequim há muito tempo .”
Em uma viagem bem-organizada pelo meu primo e nossos compatriotas, alugamos uma van e rumamos ao oeste da cidade. Perto da fronteira com a província de Hebei fica Cuan Di Xia, patrimônio histórico cultural da Unesco. Uma vila da dinastia Ming, em excelente estado de conservação para seus 500 anos de história e sua destruição durante a invasão japonesa e a Revolução Cultural. O lugar é cercado por uma cadeia montanhosa e, assim, para os corajosos, um passeio por cima dos picos oferece uma visão de quase 360°.
A chegada a Cuan Di Xia leva em torno de duas horas. Três para quem “aluga” um motorista como o nosso, que jura saber o caminho, mas passa 40 minutos ao telefone tentando descobrir como se chega lá. E ainda nos olha e diz: “Se a polícia nos parar, vocês não sabem falar mandarim. Somos só pengyou”. Pengyou significa “amigo”, mas também serve para motorista, garçonete, professora, desconhecido nas ruas, gente para assinar teu contrato de aluguel. Bem fácil.
O sábado em Cun Di Xia começou com um almoço. Como o vilarejo é apenas um vilarejo, e não uma cidade, não há restaurantes, vendas, shoppings. Os locais (porque eles ainda moram lá e respiram bem, como me foi atestado) improvisam mesas nos seus quintais e servem o almoço para quem tiver interessado – e sem muitos critérios. Nós não tínhamos critério nenhum. Visto que não sabíamos o que havia no menu, a solução foi mandar dois enviados especiais, os especialistas da culinária, para a cozinha. Eles apontaram para tudo que parecia bom e seguro e, 40 minutos depois, recebemos sete pratos de tofu, carne e frango. Ah, e legumes. E arroz rosa com feijão. Foi bom, foi bom.
Depois do almoço e de uma conta de números astronômicos, fomos caminhar pelas montanhas. Como a vegetação ainda não se manifestou, foi bonito ver tudo monocolor, em tom marrom, pastel, cara de barro e poeira. Como diria o Luiz, fica a dica.
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